Quando esse blog nasceu eu ainda estava na casa dos 20, era universitária, fanzineira, gostava de ler, escrever e beber gim. Aqui havia um template lindo, textos intensos e por hora idiotas, rimas ricas e pobres, uma leva de leitores fiéis e simpáticos, seus comentários assíduos é que deixavam essa bolha cheia. Agora, na casa dos 30, minhas sedes não são de gim, sou mestra, professora, leio teorias e tenho um novo par de olhos. Não crio expectativas quanto ao retorno. Não crie!
3.2.09
Carta para um amigo
Caio, eu escreveria um livro aqui, não pelo qualidade do conteúdo mas pela quantidade e acúmulo de informação e novidades.
É ano ímpar com gosto de par; ano de sol, de realizações e ótimas energias para as tão sonhadas conquistas. É preciso usar e abusar delas.
Amigo, estou em território cearense. Não era tempo para retornos, não agora! mas às vezes a gente antecede o destino e atropela algumas coisas não é?! Nem sempre a hora que julgamos certa é a bendita hora do peito.
Eu leio tuas palavras em voz alta, feito mantra: "Meu Deus, não sou muito forte, não tenho muito além de uma certa fé- não sei se em mim, se numa coisa que chamaria de justiça-cósmica ou a-coerência-final-de-todas-as-coisas. Preciso agora da tua mão
sobre a minha cabeça. Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir.
Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo
no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu
não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre." E finalizo com uma frase bem kardecista: “que assim seja!”
Somos e seremos eternos aprendizes.
Já tem quase um mês que estou aqui e hoje eu conto nos dedos os amigos que revi , sigo num corre corre de médicos e auxílio aos meus velhinhos. Mas sei que os demais vão entender caso eu retorne ao meu casulo e não tenha tido oportunidade de revê-los. A vida é mesmo esse vendaval de circunstâncias inesperadas. Mas o ano começa transbordando em alegria, aprovação no mestrado em Comunicação [sim, eu retrocedo!] e coração preenchido. Estou feliz com as mudanças e possibilidades.
Tenho uma gata que me ama, roommates que sinto muita saudade, um quarto que agora vai ganhar cortinas e mural para colar fotos de amigos e família, par para cinema e degustação de receitas novas.
Felicidade é esse bololô de coisas simples e eu prefiro assim!
Tenho pensado muito ultimamente, em mim, nos outros... às vezes chega a doer a cabeça, pensamentos de peso. Há coisas sociais, outras absurdamente internas, mas as sociais têm me aflingido muito, já que não esnobo a alegria de cá. Essa coisa de crise econômica, aquecimento global, o mundo se acabando em água e câncer... É Caio, às vezes eu tenho medo de acordar!
Mas como eu sempre digo: é preciso viver pra humanizar e tenho dito!
Estar em Fortaleza agora me deixa um tanto rebelde e impaciente, indiferente também, há um certo desencanto e o que me dói é ver toda aquela paixão que eu tinha pela cidade evaporar numa nuvem cinza de símbolos e representações... talvez um dia eu retorne pra sempre, numa necessidade de construção, de muros e escadarias iluminadas. O fato é que retornar à um lugar e perceber que nada mudou e o que mudou foi para algo negativamente pior, me deixa extremamente indignada com a vida. Eu preciso evoluir Caio, a gente precisa estar sempre em processo de evolução ou metaforicamente ficaremos acimentados ao chão. Me imagino Kafkaniamente Gregório, metamorfoseando, barata ou não, acho que tudo tem por obrigação mudar, movimentar-se... "Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia..."
Eu sei, tornei-me exigente demais, geminiana talvez. Já nem choro mais em filmes de drama. É saturno em seu bendito retorno, mas eu aprendi a me esquivar das rasteiras cósmicas. E você Caio, virginiano como eu, há de convir que o mundo é muito verde e se não procurarmos um facho de luz, a gente se acaba feito bicho dentro de fruta podre, de fora a casquinha brilha num suposto amareloavermelhado, mas dentro o fruto padece.
Pois, chega de tanta amargura! Há frutos com muito sumo, eu sei.
E deles que busco saciar minhas sedes e como você mesmo diz:
Que seja doce!
Saudades amigo, da tua Luana.
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