Você voltaria a morar "na cidade onde enterraram o seu umbigo"?
Sempre que mudo de uma cidade para outra sou coberta por uma esperança indescritível, fico cega, surda e muda, e ao mesmo tempo enxergo beleza nas coisas mais sutis, no caos, no fluxo, nas luzes, nas pessoas, na riqueza e até na pobreza urbana, tudo me deixa maravilhada!
Fazer novos amigos é um tanto assustador e trabalhoso, mas de repente aquela chateação de contar sua vida tim tim por tim tim, até ganhar a aprovação do outro passa despercebida. Logo seu telefone não pára de tocar, é gente chamando para um bar, para dançar e lá está você, feliz ao redor de pessoas que até então eram desconhecidas.
Com o passar do tempo a cidade vai tomando outra forma, ficando pequena demais, acelerada demais, e viver nela é como desembrulhar um fardo diariamente.
Aí vem aquela sensação de retrocesso, quando na verdade você só buscava acertos ou apenas um lugar tranqüilo e feliz para viver, mas de repente você se depara com a deprimente possibilidade de não ter feito a escolha certa. Esse não é o local onde quero morar!
É como diz Caio Fernando Abreu, “você não sabe, mas acontece assim quando você sai de uma cidadezinha que já deixou de ser sua e vai morar noutra cidade, que ainda não começou a ser sua. Você sempre fica meio tonto quando pensa que não quer ficar, e que também não quer - ou não pode – voltar.”
Sair de uma cidade por escolha própria é sem dúvida ter a absoluta certeza de que ela já não é mais sua, de que você tem sede do novo e de maiores possibilidades. Para muitos, voltar é como assinar o atestado de erro, de fracasso. Você fracassou! E sempre vai ter alguém pra dizer: eu avisei!
O fato é que aqui no Brasil toda cidade é igual! Uma cidade pequena tem as mesmas falhas e confortos que outras cidades pequenas. Uma cidade grande caminha e cresce na ambição, na pausa ou rapidez de toda cidade grande.
Você pode até revisitar lugares em que foi absurdamente feliz, mas dificilmente as pessoas voltam a viver "na cidade onde enterraram o umbigo", por questões extremamente óbvias. Já não há novidade ali! E quando a outra cidade também deixa de ser novidade, quando você percebe que nas festas estão sempre as mesmas pessoas; no restaurante em que almoça tem sempre as mesmas comidas; que os sotaques são todos arrastados cada um do seu modo; que todo bairrista é fanático e defende uma imagem que quase nem sempre existe; que os excessos e carências são os mesmos...
Lembre-se, quando a noite cai e o sono se perde no embrulho do fardo, há sempre um sol brilhando do outro lado do mundo
Quando esse blog nasceu eu ainda estava na casa dos 20, era universitária, fanzineira, gostava de ler, escrever e beber gim. Aqui havia um template lindo, textos intensos e por hora idiotas, rimas ricas e pobres, uma leva de leitores fiéis e simpáticos, seus comentários assíduos é que deixavam essa bolha cheia. Agora, na casa dos 30, minhas sedes não são de gim, sou mestra, professora, leio teorias e tenho um novo par de olhos. Não crio expectativas quanto ao retorno. Não crie!