29.11.07

Deixei de lado os dias mofados.
Aqueles em que sair da cama me causava dores no corpo.
Sonhos horríveis que roubam o sono.
Um esforço para alargar um mero sorriso sem jeito.

Da janela eu lembrava das vidas lá fora.
E as vidas lá fora me causavam enjôo.
Aquela coisa embrulhando o estômago, subindo, subindo e num vômito raivoso; eu parava, olhava toda aquela gosma nojenta espatifada ao chão e imaginava que ali tinha o pior de mim.

E tinha!

Hoje coleciono dias despretensiosos
Saio.
E do lado de fora vejos as vidas, as que temia, as que nunca nem vi...
Parece um mundo tomado por Júpiter.
Chego até a ouvir:

- Nossa, como tens o olhar cristalino!

rá! dá o play

26.11.07

Foi tão bom, que parecia um sonho.
Ou era de sonho aqueles gestos espontâneos,
Quase inventados no meio do novo.

Já não temo o novo.
Tem asas grandes e cintilantes,
Corta o vento, desvia das árvores,
Se esconde da chuva, se joga no tempo.

O silêncio era balbucio no entre de nós,
Silhuetas em curvas.
Pensamento fugaz que se faz no momento
Entrelaços e timbre da voz.

Deslizantes no movimentar.
Confiantes no palpitar
E em tudo que estava escrito,
No verde claro do teu olhar.

E de asas grandes e cintilantes,
Cortando o vento, desviando das árvores,
Se escondendo da chuva, se jogando no tempo.

Caímos no abismo do entre de nós.
No frio na barriga dessa queda em infinito,
No salgado em corpos molhados,
Das carícias tomadas em delicadezas.
Asas de outros cantos, de outros céus,
Outros portos e horizontes,
Passeiam agora, sem medo do tempo,
Do novo,
Dos ventos.

E se instalam arrojadas,
Bem no meio do estômago.

Feito borboletas.

dá o play

24.11.07

felicidade quando tá posta, nasce de um triz de manhã ensolarada,
de cinco e meia da tarde com céu amareloalaranjado,
de noite de lua cheia.
de estrela cadente roubando desejo,
de vento levando segredos.

adoooooooooro essa música! dá o play

22.11.07


Mesmo que minha alma não pareça um sem fim,
Ainda te guardo;
Remoída, esfarelada, estraçalhada e cortante.

Mesmo que minha alma não pareça um sem fim,
Ainda te quero;
Amarga, exaustiva, calada e cortante.

Mesmo que minha alma não pareça um sem fim.
Ainda te espero;
Contando, pensando, chorando e cortando,
O peito dessa alma que parece ter fim.

E antes que o fim apareça,
Nessa alma que é sim um sem fim.
Ainda te guardo, te quero, te espero.
Por mais cortante que seja.

e viva as rimas pobres!

dá o play no the cardigans

21.11.07


Me ligou angustiada, contando do sonho que teve na noite passada...

- Calma, calma! Foi só um sonho, nada real.
- É, pode ser...
- Tô te dizendo que foi só um sonho, são apenas lembranças ou desejos fragmentados do inconsciente.
- É, talvez seja... mas e agora?
- Oura, já que foi só um sonho não precisa se preocupar. Não foi, não é e nem será real!
- E em que sonho eu devo acreditar?
- Ah meu bem, somente naqueles que sonhamos acordada!

dá o play

19.11.07

Debruçou-se na janela.
Havia flores ao lado; violetas, lírios e arrudas.
O cheiro de café que vinha da cozinha do vizinho entrava intruso, casa adentro, por debaixo da porta, pelas janelas abertas e buracos de fechaduras...
Lá fora, tudo parecia mais calmo que ontem.
E tudo haveria de ser muito mais calmo amanhã.
Acendeu um cigarro, tragou, soprou como quem despeja num sopro, um certo alívio...
A fumaça misturou-se com o cheiro do café forte solto no ar.

E a partir daquele instante, tinha certeza de que os dias nasceriam de tonalidades brancas.

Feito calmaria
...quando o tempo é amigo e sincero


dá o play

17.11.07

Olhou para trás.
Pensava naquela ruma de gente colecionadores de palavras vazias.
No jeito falsário que vivem a vida.
Pensava de forma tão intensa, que era quase possível ver em sua face, as frases que lhe ferviam o pensamento: Ah se pudesse roubar a vida alheia, dar-lhes-ia uma bela de uma lição!
Mostraria-lhes o quanto é ruim o eco do poço.
O peso da lástima.
O prego no peito.
As rimas sem tom.


Passaram-se dias...
Olhou para trás e sem que precisasse sequer pensar naquela ruma de gente colecionadores de palavras vazias, os viu.
Lá estavam eles...
Lamentando o eco do poço
O peso da lástima
O prego no peito
As rimas sem tom.

Pensou de forma tão intensa, que era quase possível ver em sua face, as frases que lhe ferviam o pensamento: Ah meus queridos, eu disse que a vida é cíclica! E quem não fixa o olhar lá adiante... bem, há de tombar!

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je t'embrasse très tendrement

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tem dias que:
viver tem gosto de geléia de damasco com queijo brie

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O pedido anotado numa folha de papel pautado.
Tudo tão rápido e intenso, que se parasse para respirar, daria medo enfrentar aqueles planos.
Regou as margaridas como quem rega o desejo.
Tinha absoluta certeza de que lá haveria de ser bem melhor.
E foi!
E ainda será!
Não mais acolá.
Agora num outro lugar.

Felicidade tem três destinos, três cheiros, três nomes, três cores.

E felicidade quando tá posta, só com o vento é que se deixa levar.
Seja lá o que for e onde for, já diziam os astros:
Será sem dúvida, tempo de colheita!

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faaaala maria!
"então tá combinado, é quase nada. é tudo somente sexo e amizade..."

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Arrèt là fille!

musiquinha para complementar o texto.
dá o play

12.11.07

verde

Há paisagens que residem em mim.
De um verde tão verde que chega a doer.
Tão límpido é o céu e o silêncio do teu olhar.
Montanhas longínquas,
Lagos vastos e cheios do meu lacrimejar;
Que encham os lagos de felicidade.
Mergulharia com tudo, num pulo bem alto e corpo inclinado;
Iria bem fundo, no fundo mais fundo
Onde guardo o segredo dos meus desejos.
Dou-te uns deles.
Dá-me os teus
Cruzemos os nossos.
De olhos fechados,
O som do silêncio,
O barulho do peito,
O vento sem jeito.
Busco no tempo um caminho
A esperança solta no espaço.
Na janela do ônibus,
Me fixo na tua imagem.
Um sorriso.
Os sorrisos
E a certeza de tudo que há.
Segue o ônibus
Que rasga veloz
O vento na estrada que corta aquele lugar.
És tu, és tu todo o verbo amar.
Busquemos os sonhos.
Deixemos o lúgubre dos nossos medos.
Faremos do tempo, o gerúndio dos nossos desejos.