31.7.07

A pedidos, republico o conto:
Uma saudade chamada Arlequim

Depois que mamãe faleceu, resolvi vasculhar suas coisas; encontrei fotos lindas e um grande diário. Como se não bastasse ter tomado um susto ao ver que ela escreveu escondida até os seus oitenta e quatro anos, achei junto de toda papelada, esse texto:
Ontem foi o meu aniversário de oitenta anos e todos vieram para minha casa no interior onde nasci; meus filhos, noras, genros, netos e até bisnetos. Reuni toda a família naquele fevereiro.
A cada dia que passa parece que eu ganho mais um par de rugas no rosto, já não enxergo as coisas direito e ando cada vez mais devagar; mas nesse mesmo aniversário ganhei uma bengala e só Deus sabe como foi difícil aceitar aquele pedaço de madeira fino suportando um peso que nem eu mesma agüentava e continuo não agüentando.
Aquele foi um aniversário diferente; a festa foi grande, bonita e mesmo sem o meu consentimento, minha família decidiu comemorar com uma festa carnavalesca, como as que eu freqüentava quando era mais nova. No começo achei uma idéia ruim, mas depois fiquei achando que essa era uma boa oportunidade para os meus netos conhecerem o verdadeiro Carnaval; até porque se eu dissesse que não queria, naturalmente não aceitariam minha opinião. Pois chega uma certa idade em que velhos, como eu, não têm mais opinião.
Até quis ajudar na decoração, na cozinha, mas já não tenho forças pra essas coisas, então fiquei vendo os preparativos sentada em minha cadeira de balanço, onde vez em quando me pegava cochilando mesmo sem querer.
Era um vaivém danado de gente, meus netos corriam para um lado e para o outro, bagunçando tudo que minhas filhas e noras tinham arrumado. Cansada de ficar sentada, resolvi ir dormir em meu quarto, mesmo sabendo que meu marido estaria ouvindo aquele rádio antigo numa altura insuportável; coisa que o tempo faz acostumar.
Dormi por algumas horas e quando acordei já era noite. Tomei um banho, coloquei um vestido de corte reto que meu filho mais velho me deu alegando que quando a gente fica velho, deve usar essas coisas sem curvas que cobrem o corpo inteiro pra parecer decente na missa de domingo. Penteei os cabelos, despejei um pouco de lavanda e mesmo com minha mão trêmula, passei um batom bem clarinho que eu já não usava havia um tempo. Acho até que estava passado, mas naquele dia nada importava, só aquela estranha vontade de colocar uma fantasia de Colombina, umas purpurinas no rosto e um batom avermelhado. Não era um pensamento ou uma vontade imoral, só eu sabia que era um sentimento nostálgico, apenas.
Ao chegar na varanda, me emocionei com um lindo salão de festas, serpentinas penduradas, máscaras feitas de papelão coladas nas paredes e todos eles fantasiados bem ali na minha frente. Me vi entre piratas, bailarinas, palhaços, odaliscas e ciganas.
Naquele momento, perdi o fôlego. Mas aquilo não se tratava de um mal-estar qualquer de gente idosa; havia uma emoção diferente dentro de mim, que eu não sabia ao certo o que era. Me quedei sentada na cadeira de balanço enfeitada com tiras de todas as cores e fiquei observando aquele Carnaval, quase do mesmo jeitinho de quando ainda havia energia em meu corpo e minha pele era uma tez, de quando meus pés pareciam não obedecer ao meu cansaço e todo mundo se divertia naquela grande brincadeira.
Meus filhos colaram fotos grandes do tempo em que eu me escondia atrás das máscaras e tudo era dança. Fotos minha e do meu marido, eu de Colombina e ele de Pierrô. Todo Carnaval nos vestíamos dos mesmos personagens, que era pra não esquecer jamais de que foi no Salão Folia que nos conhecemos, que aceitamos as nossas vontades de sermos namorados e, anos depois, marido e mulher. Essas lembranças eram sempre mais nítidas quando chegava Fevereiro, quando estávamos vestidos eu de Colombina e ele de Pierrô, quando era Carnaval.
E no meu aniversário de oitenta anos, como se já não bastasse a grande festa que de certa forma me proporcionou uma alegria enorme, ele, meu marido, escondido atrás da porta, gritou com aquela voz rouca de velho sem força, pedindo que tocassem a música. Continuei sentada em minha cadeira de balanço, já que a velhice não me permite muito movimento.
E bem alto, nas caixas de som apoiadas ao lado da mesa, começou a tocar:
"Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
O arlequim está chorando pelo amor da colombina
No meio da multidão
Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrot
Que te abraçou
Que te beijou meu amor
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade...
Vou beijar-te agora, não me leve a mal
Hoje é carnaval..."
De repente lá vem ele, vestido com a fantasia de Pierrô e também com uma bengala na mão facilitando os passos lentos, os óculos recostados na ponta do nariz e um sorriso que nem mesmo as rugas escondiam. E mesmo assim, com toda aquela homenagem, com todo aquele Carnaval, a minha saudade era outra. Saudade que por tantas vezes fora esquecida ou até mesmo escondida em mim. E apesar de estar perto de toda a família, comemorando um dia que era só meu, sentia que muito embora o tempo me tivesse roubado tão boas lembranças, naquele aniversário, minha saudade tinha um outro nome e vestia um outro costume. Minha saudade circulava o salão por tantos carnavais fantasiado de arlequim.


e pra deixar mais bonito.. dá o play

29.7.07

bufo!

E me fechou a porta num jeito bravo!
De súbito eu lhe disse:
- Não faça assim Carlos!
Aqui dentro é frágil!


--

Gente sentada esperando ela cantar.
Podia ver o vento levando seus timbres, graves e agudos.
Numa delicadeza quase aveludada.
A brisa do mar se costurando aos tons.
As cordas do violão...
Deixando agridoce aquele presente de domingo.
Naquele palco, ela cantava alto, palavras do sábio Jobim:


Você vai ver
Você vai implorar me pedir pra voltar
E eu vou dizer
Dessa vez não vai dar

Eu fui gostar de você
Dei carinho, amor pra valer
Dei tanto amor
Mas você queria só prazer

Você zombou
E brincou com as coisas mais sérias que eu fiz
Quando eu tentei
Com você ser feliz

Era tão forte a ilusão
Que prendia o meu coração
Você matou a ilusão
Libertou meu coração

Hoje é você que vai ter de chorar
Você vai ver



E eu pensando: Canta Paulinha, canta a Canção de Amor Banal pra eu gritar bem alto:

É tarde eu sei
Não devo te acordar
É que andei pensando em nós dois
Fiquei feliz
Quis te falar
Quis te dizer
Que a lua tá la fora
Como quem pede pra te ver
Pra te chamar, te convidar
Pra você vir e ver como é legal
Andar sem rumo, andar sem lei
Só por prazer
Só por viver
Então meu bem
Abra essa porta e deixe frio
A noite, a lua e eu te convidar pra dançar.

[Paula Tesser/ Valdo Aderaldo]

--

quando a solidão é um sopro.

Bastou ele olhar pra ela e dizer:
- Um dia, ainda vou talhar a nossa história!

quando o amor nem sempre vira dança.

Ela contava para as amigas os dramas do seu primeiro amor:
- Éramos como cabaleta desritmada!

quando a rima cansa.

- Vai?
- Vou!
- Sai!
- Agora sou!


quando omitir é apenas omitir.

Bastou ele olhar para ela e dizer:
- Não é bem assim...
E ela responder:
- Eu já sabia!

--

saga de teresa.

- Eu disse... eu disse pra você não ir!
- Mas era só um convite, uma cervejinha, dominó, um forrozinho...
- Teresa Teresa... Você não sabe onde está pisando.
- Sei sim!
- Ah sabe?
- Sei!
- Pois diga onde você está pisando...
- Em ovos!

- Teresa Teresa... Não brinca Teresa!


dá o play

25.7.07

ela ligou para a amiga e disse:

- Essa manhã acordei com uma sensação estranha!
- O que foi?
- Não sei explicar... Só uma vontade absurda de não ser mais o que sou. Acho que o verbo “estar” não tá bem empregado na minha rotina, tá torto, troncho, amarrado nas minhas horas, deixando meu tempo lento.
- Ave maria! Quanta filosofia barata!
- Não é não, preciso botar as coisas no lugar! Sabe a Pandora? A mulher feita no céu; aquela que abriu a caixa de Epimeteu, reservada de pragas e todos os sentimentos ruins possíveis?
- Sei sim!
- Pois é. Aqui dentro tá mais ou menos assim. Um azedume corrosivo, chega a lacrimejar.
- E o que você pretende fazer?
- Bem... Das coisas soltas... Não sei, mas acho que preciso “me” arrumar!


--

toc toc toc...

E me abriu a porta num jeito afável.
De súbito eu lhe disse:
- Não me olhes assim Carlos!
Aqui dentro é vasto!


--

é solilóquios o nome disso.

- Mãe, a psicóloga mandou eu fazer um exerciciozinho diário.
- Foi minha filha? E como é esse exercício?
- Disse pra eu ir pra frente do espelho uma vez por dia e dizer de forma repetitiva: Te ama! Te ama! Te ama! Te ama! Te ama! Te ama! Te ama...
- Bem que eu disse! Só não sabia que ajudaria se fizesse como um mantra.
- Mãe...
- Oi filha.
- Não entendi nada do que essa psicóloga pretende com isso.
- ...


--

Diálogo em mesa de bar [observação importante: não havia ninguém bêbado]

- Você tá forte!
- É eu sei!
- Tá malhando?
- Tô sim! Faz um tempinho já.
- Tá é bem você!
- Brigada! Tenho comido uma banana por dia, mesmo já estando enjoada.
- É mesmo? E por quê banana?
- Banana é uma das frutas mais importantes na alimentação, fruta que dá facinho facinho; é também rica em proteínas, em potássio...
- É mesmo? Vou casar com uma banana então. É rica e ainda dá fácil!
- Ô besteira!


--

É brando.
O teu olhar.
É branco.
O meu amar.

dá o play:

23.7.07













.chove.

Um céu que lacrimeja calmo.
Acanhado num azul meio acinzentado.
Por debaixo da porta entram os cheiros.
Um cheiro.
Poeira que sobe.

Um tempo de desejo,
Que caia mas não molhe.
Vidro que fica opaco.

Chora...
Chora que tuas lágrimas levam as minhas.
Banham os ladrinhos avermelhados
Esfriam o asfalto quente
O meu peito descrente.

Passeiam pelos córregos sujos,
E coração vazio.
Levam os pesos.
Os besos.
Os versos.
Meus credos.

Chora...
Chora que tuas lágrimas levam as minhas.
No arrastar das areias.
Na praia vazia.
E lá se perderão, no salgado da água fria.

--

Das coisas que murmuravam nela.
Até que um dia, apareceu com um meio sorriso estampado no rosto e nos disse:
Cheguei a pensar em como pode ser tão latente algo tão simples?
Era como casar Eros com Ágape.
Me deixei levar pela lascívia sutil impregnada naquele corpo.
Era bonito até o jeito de negacear minhas promessas dignas de muitos sorrisos.
Até que aos poucos descobri a diferença de imergir e emergir.
E deixei de lado a mania boba de achar que, amar é morrer sempre um pouquinho.


.das gavetas.

O verso do Sr. Gerúndio.

Tu vindo e eu esperando
Tu sorrindo e eu pensando
Tu dormindo e eu cantando
Eu calada e tu amando
Eu amando e tu bestando


minha preferência, ainda por rimas pobres!!!

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20.7.07

.Amor desbotado.
Dolores morava numa rua sem nome. E era assim que chamavam quando era necessário fazer qualquer referência, seja para o entregador de pizza ou a moça que vendia verduras numa bacia equilibrada na cabeça - assim, você passa pela Rua São José, depois dobra a esquerda, em seguida você dobra na Rua Tropical e depois dobra numa rua sem nome -. E a rua passou a ser chamada assim, de “Rua Sem Nome”.
A casa de Dolores era uma casa com tonalidade meio amarelada, não sei se de um branco envelhecido ou um amarelo “tipo esquecido”; tinha telhado de barro com manchas de lodo. A porta da frente tinha uns desenhos abstratos, parecia ter sido talhada com um enorme carinho. Havia algumas flores do lado de fora com um certo ar de abandono, um pinheiro estranho ao lado direito da casa e uma gaiola com um passarinho de brinquedo.
Os vizinhos de Dolores disseram que desde que seu marido saiu de casa, ela nunca mais viu o sol nascer que não fosse pelas persianas. Diziam que ela agora era uma mulher sorumbática e desleixada.
Para ela, os dias eram como se fossem um papel dobrado, uma, duas, três... cinco, sete, dez dobras.
Caminhava de um jeito sereno pelos cômodos da casa, mas passava a maior parte do tempo enfurnada dentro do quarto, com os cabelos desgrenhados, dando conta dos seus tiques nervosos; usava uma lavanda que ganhou no dia do seu aniversário - aquelas de dois litros que duram uma eternidade -. Vestia roupas leves e tinha uma feição tristonha.
Dolores escrevia poesias em folha de papel pautado e depois de terminar os versos ritmados, ela amassava o papel e o fazia cinza em labareda.
Os vizinhos diziam que o marido de Dolores era agressivo, tinha um jeito meio ludibriado; mas Dolores amava o jeito ferrenho ou não que ele a tratava.
Até que um certo dia, nas caminhadas serenas dentro de casa, Dolores foi remexer as gavetas, todas cheias de fotografias antigas e bilhetes rabiscados de sentimentos, cartões de Natal, convites de casamentos, um envelope. Rasgado, manchado e com uma carta escrita num papel amarelado.
Era dele. Escrita por ele, para ela.
No tempo em que o amor era uma janela aberta. Quando ele deixava a caneta escorregar no papel de um jeito tão manso, que parecia afago.
No branco, agora amarelado.
Dolores lia, relia e chorava de um jeito compulsivo; não imaginava que um amor digno de talhar porta com desenhos abstratos, se cobriu num rubro sangrado, num todo asco.
Ela chorava, chorava, até que os olhos fecharam e o peito gritou num palpitar cansado, que o amor não é um canto ensaiado, é um pintar do jeito que quer, traçar do jeito que quer. O amor é solúvel, é palpável, é maleável e pode mudar seja com o anteceder do tempo ou com o passar do tempo.
E amor às vezes se transforma, em desamor ou num grande amor desbotado.

Dolores lia, relia e agora suspirava de um jeito quase epifânico. Como quem arrisca sorrir ao pensar em ir lá fora ver o sol nascer.
Observar de um ângulo que não seja o de dentro, a casa da Rua Sem Nome.
E num piscar de olhos, tentar tingi-la de qualquer cor, desde que não lembre um certo amarelado.

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18.7.07

.momento diarinho.

Estou bêbada! De Casillero Del Diablo, vinho bom e barato.
Assistimos Xeque Mate achando que arrancaríamos alguns sorrisos. Mas era um arrodeado de mortes estranhas, uma coisa confusa e sem sentido, como aqueles filmes que não mudam absolutamente nada na sua vida. Acho péssimo!
Decidimos superar a noite numa garrafa de vinho e conversas tronchas, de peito livre e ainda tímido.
Ela girou mas eu que consegui abrir a garrafa sozinha, mesmo com toda a tendinite instalada em meu punho direito. Orgulho!
A academia tem feito jus. Aliás, hoje descobri que ganhei 1kg só de massa muscular [meu instrutor mandou avisar que não requer que eu comemore com inúmeras cervejas]. Acho que por isso inconscientemente aderi ao vinho. Fazia mais ou menos 7 meses que eu não tomava um porre “de suco de uva”, de deixar o dente roxo, o olhar baixo, o juízo torto.
Abri as janelas para o vento entrar, como faço somente quando tem visitas do lado de cá. Coisa de sentar no chão. Eu roia as unhas; ela fumava um cigarro de menta. Acho sublime quem fuma cigarro de menta!
Descobri que gosto sim de arianos, aqueles que possuem ascendente e lua em capricórnio, porque são como eu, carregando cinco planetas na casa de libra. O que me faz equilibrar toda a crítica de um bom virginiano e todo o egoísmo de um bom geminiano. E me faz pensar no outro, como todo e cauteloso libriano.
E por falar em signo, mês que vem farei meu mapa. Novamente. Porque é mês que antecede o dia do meu signo solar, ou seja, meu aniversário.
Estarei lá, com fitas K7 na mão, olhando para aquele moço meu amigo. Vai me dizer que não é mais tempo de caminhar como se houvesse um freio de mão puxado. Vai falar do peito, do tum tum tum que voltou a bater ritmado. Vai falar da escrita, da mudança de emprego e da casa sete. De todo amor que reside na casa sete. Vai falar dos karmas que vêm do peito. Dos que já foram, dos que virão, porque já entendi que aqui embaixo é de puro aprendizado. Quero chegar aos meus 60 formada em comunicação, com pós em comunicação e cultura, literatura brasileira, graduação em filosofia, mestrado e muitos livros publicados.
Amor, meus 5 filhos e minhas viagens já postas em fotografia.
Rezando feito um mantra as frases que ele me disse: mente quieta, espinha ereta, coração tranqüilo.
Ele vai me dizer que nem preciso esperar até os 60 para isso tudo.
Porque já entendi também que a gente tem o amanhã, a gente nem sabe o peso disso tudo, o quanto vale, mas a gente tem o amanhã. Como uma página em branco para rabiscar o novo.

Estou bêbada sim! Dentro de casa, na madrugada ventilada da Praia do Futuro. Escrevendo nada com nada. Pensando nada com nada... "Qualquer coisa é a mesma coisa".
Estou agora de um jeito que só o que me preocupa é: onde estão as três marias?

Acabei de devorar uma tigela de granola com leite, tenho me alimentado normalmente, já nem preciso mais da ajuda de vitaminas como Centrum. Muito menos de engolir "na marra" duas bananas por dia.

Estou vestida de preto, quase em homenagem ao Nietzsche já que falávamos tanto dele. Lembrei da Tiburi, e roubo a frase dela pra dizer que "Nietzsche é meu pastor e nada me faltará". O homem da mola no poço. Do poço com mola. Do sorriso no poço. Do que diz que o "conhecimento traz consigo a solidão".
E eu complemento que pode trazer também, um emaranhado de multidão.

E tenho dito!

Preciso ir... é tarde! Porque bêbado e internet é o mesmo que bêbado com celular, ou bêbado sozinho numa mesa de bar.
Acaba dando em M_ _ _ _.
E viva o meu portuñol: socuuuuuuuuuuuuero!

Se MARIANA MARQUES estivesse aqui, olharia para mim e diria: Ô besteira!

--

Texto publicado no site do Centro Cultural Dragão do Mar.
Link: AQUELE HOMEM MENINO.

--

[diálogo que durou uma única manhã... para nunca mais]

- Bom dia coisa linda...
- Bom dia meu amorzinho!
- ...
- Vai pra onde tão cedo?
- Comprar o pão.
- Mas eu nem tenho fome pela manhã.
- Ah... é verdade! Mas deixa eu ir mesmo assim.
- Deixo. Só estou avisando que não tem precisão.
- Eu sei... Talvez eu encontre uma rosa ou até mesmo uma papoula no meio do caminho.
- E daí?
- ...

--

Caio Fernando Abreu é que era sabido, quando dizia que:
"Os dragões não conhecem o paraíso"

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16.7.07

A mãe tentava consolar a filha adolescente que chorava aos prantos de uma paixonite mal resolvida.

- Minha filha, o tempo há de curar essa dor. O tempo cura tudo!
- Não, não! Eu vou morrer de tanto sofrimento mãe... Eu sei que vou!
- Vai não meu amor, vai não. Finja que você é uma balança, transforme todos os sentimentos em peso e vais perceber que o desamor de repente surge, é feito flor desabrochando e que cada ação vinda dele é como um ato de regar.


Mas a menina estava numa idade da vida em que sequer tinha visto uma flor desabrochar...

Continuou chorando.
Um choro que fazia soluçar.

--

Diálogo bonitinho:
- Ela só serve pra me dar duas coisas nessa vida.
- O quê?
- Saudade e felicidade!
- Oura mais, é porque uma só caminha se tiver a outra


--

Ela me olhou com aquele par de olhos lacrimejantes e disse:
Compra flores brancas e deixa ao lado direito da tua cama, escreve um pedido num pedaço de papel e coloca debaixo do jarro.

Dias depois comprei um jarro de margaridas. Tão lindas! Peguei um pedaço de papel e nele - de forma bastante egoísta - rabisquei dois pedidos.
Pedi perdão pelo fato de ser dois, mas ambos são genéricos de felicidade.

--

Construção
Na hora de pensar ou falar de mim. Não esqueça que lá em cima cada pensamento e palavra tua equivale a um tijolinho.

você é tudo aquilo que você pensa, você é tudo aquilo que você diz.

--

Coisa de mãe

- Menino, deixa de palavreado feio!
- Eu não ó! Caralho, caralho, caraaaaaaaaaaalhooooooooo!!!
- Diabo! Se você não parar agora eu “taco” um chá de urtiga na tua goela.


E numa voz beeeeeeem baixinha, ele solta outro palavreado:
- Porra! Riririririri...

A mãe:
- Menino, menino...

--

Vai andorinha
É hora de voar.
Há vôo, que são muitos
Há vôo singular.
Vai andorinha.
É hora de pousar.
Diminui o bater das asas
Fixa o teu olhar.
Vai andorinha
Que tem hora de parar.

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11.7.07


para complementar o texto, eu sugiro clicar no "play" da música antes de passar a vista nas letrinhas abaixo.

.blanc.
Era uma coisa tão impregnada nela, que parecia ter uma segunda pele naquele corpo; parecia carne, músculo e trazia uma sensação de exalar cheiro.
Sim, exalava cheiro aquela tristeza que tomava ela como um todo!
Era uma moça tão magra, cabelo rente, um olhar baixo que beliscava o peito gritando angústia. Como se alguém chegasse bem perto do meu ouvido e dissesse: É angústia o que ela sente. Não, não... É melancolia!
E eu disse quase que em voz alta pra mim mesmo: É tristeza!
Cinza, cinza; daquelas que se cuidar se cobre num branco e do branco até arrisca um sorriso ou se faz num preto, que de tão preto parece abismo.
Estava lá, a mulher, num vestido verde musgo e chinelo de couro; ela tinha um futrico nos dedos, como quem arranca com as unhas as camadas de pele uma por uma. Cheguei mais perto, em passos mansos pra tristeza dela não rodopiar e virar euforia.
O olhar triste era agora assustado, firme como quem diz: não chega tão perto!
Sentei ao lado da cajazeira, igual a ela. Futriquei a grama e não os dedos. Cabisbaixa, ela me olhava torto, até que numa voz cheia de engasgo, me disse um “oi!”
Perguntei o que ela fazia ali tão sozinha, tão tristonha?
A moça me respondeu com uma única frase: “Tenho mágoa, muita mágoa!”
Pensei: Como haveria de ter tanta firmeza numa frase? Uma moça daquelas, aparentemente tão nova, não deve ainda, ter vivido tempo suficiente para sequer entender a profundidade das coisas, sequer passou por todos os sentimentos soltos na curiosidade de Pandora.
Perguntei se ela sabia o que significava mágoa? Ela me respondeu dizendo que sim. Que era como ter um prego enfiado no peito e que toda vez ao palpitar, ele dava uma pequena e aguda alfinetada por dentro, como se quisesse lembrar que está lá, como se quisesse fazer chorar... E que a mágoa trazia tristeza, que quase sempre comprimia a voz, a respiração e os passos que a destinavam a canto algum.
Assustado com o rebuliço interno da moça, perguntei se ela sabia o que era o perdão?
Ergueu a cabeça como se pesasse trinta quilos e disse: "O significado disso eu ainda não aprendi, mas sei que me traria de volta!"
Eu olhei para ela, agora com um pouco mais de fôlego e lhe expliquei que o perdão tem a cor rosa, como o amor, porque perdoar é se propor a amar novamente.
Pedi que ela fechasse os olhos, botasse a mão esquerda no peito e a outra nos olhos agora fechados, pedi que imaginasse puxando levemente aquele prego, devagar, pra não sangrar, pra não doer... pedi que puxasse toda aquela tristeza que baixava suas pálpebras evitando mostrar suas íris claras.
Agora embrulhe! Embrulhe num papel rosado, amarre com um barbante bem firme, tão firme quanto seus pensamentos e permita-se amar.

Meia hora depois, ela me sorriu bonito, num jeito quase aristotélico de dizer que perdoar é também descobrir a sua essência.

9.7.07

Teus olhos meu bem, revelam tudo que escondes em ti.
Teus olhos meu bem, te escondem de ti.

--

O mundo esdrúxulo do orkut:
- Oi! Peguei s endrço do msn pelo orkut! =P
- Hum...
- Qtos anos você tem? ^^
- Ah meu pai!
- Q foi? =(
- Nada! É que lembrei do tempo em que eu conversava pelos Irc, chats etc etc...
- Pq? :-(
- Porque as conversas sempre começavam com essas frases: de onde tc? Qtos anos? Faz o q? ... Você não sabia disso?
- Ah... naum! E tem algum pblma começar 1 conversa perguntando a idade?
- Tem sim! Muitos! Primeiro que eu já não tenho mais idade pra isso, nem tempo e muito menos saco!
- Desculpa então... :’(
- Tudo bem.
- Mas me diz, qtos anos você tem? Naum me respondeu...
- Putz griiiila! Eu devo ter mais que você... certeza!
- Pq você acha isso? Eu tenho 16!
- Olha, seguinte, eu entendo que se deixo meu endereço de msn, no meu blog, no orkut, fotolog etc etc... é para que as pessoas me adicionem. Mas eu sou um filtro virtual sabia? Sou bem fresca mesmo! Só mantenho o diálogo se for pra ter uma conversa legal, interessante...
- Ah, e como é uma conversa legal?
- Bem, não é nada parecido com essa sua.
- Assim você ta me “minospresando”.
- Permita-me uma abreviação bem coisa de internet?
- Claro!
- PQP!!!!!!!!!!!!!

Final da estória: bloqueio + exclusão.
A vida virtual é deveras fácil!
E viva o Del, Ctrl c, Ctrl v, Ctrl z, Caps Look...
\o/
--

[Los Hermanos]
Vocês vão aprender que nesta vida não se pode mais errar. Vão descobrir que entre as estrelas e o chão existe o mar. E aí então a euforia, um belo dia, vai passar e cairá sobre seu mundo, num segundo, a traição. Deixa estar

--

.secret.
Meu segredo, trancado, guardado, fechado com uma chave em chaveiro de Paris e uma gaita em miniatura.

--

É julho.
É tempo de ventania nessa Fortaleza.
Quase não abro as janelas do apartamento.
Quase congelo nas aulas de hidroginástica.
E o chuveiro elétrico que vovô colocou tem sido uma beleza agora, pelo menos quando é cedo da manhã!
É tempo bom pra fazer "aquele" jantar acreano na pê éfe!
\o/

--

. carta destinada a casa sete .
Mandei uma carta cheia de romantismo cafona.
Perfumada, borrada de saudade de uma lágrima quase que proposital para ilustrar o de dentro; anunciando que em agosto partirei para lá.
Levarei a mala miúda de listras desbotadas. Aquela vela utilizada para iluminar o banheiro quando o banho era intencional para um punhado de ventura nossa.
Levarei lírios enrolado num papel celofane transparente; duas taças compradas no centro da cidade, um vinho do porto. E sede, muita sede de arriscar não caminhar mais pela sombra.
Procuraremos ipês. Amarelos, roxos, brancos... azuis?
Caminharemos pelos ladrilhos, de mãos dadas anunciando amor.
Saturno vai nos guiar.
Seremos poesia de uma rima só.
A-gosto.

Avisei na carta, que pagarei excesso de bagagem da felicidade que levo e da outra que busco encontrar.

--

Candice, me empresta tua frase?

Meu povo melhoooore!!!

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8.7.07

.le amour.

Amor prelúdio.
Palpita, palpita.

E depois pára quando deitas em minha cama.

Na cama.

Amor destemido.
Arrisca, arrisca.

E depois pára quando beijas minha boca.

A boca.

Amor com gosto.
Atiça atiça.

E depois pára quando me olhas.

Os olhos.
Amor verossímil.

Não pisca, não pisca...

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3.7.07

.a vida como um pleonasmo.

Deus ordenou:

Tu vais descer em forma de mamífero.
Serás um gato! Um gato pardo, pêlo macio e bonito, os olhos meio acinzentados, terás ar de bicho dengoso, manhoso, mas como todo gato, serás apenas aparência, todos vão olhar para você e querer botar você no colo, acarinhar, mas você vai bastar com um pouco de carinho ou sobreviverá sem um trisco sequer de carinho. Serás caçador e individualista, saberá procurar um bom dengo, vais roçar na perna alheia como um pedido de cafuné e quando tiver um belo de um cafuné se entrelaçando nos seus pêlos pardos, não fará bom uso do mesmo, porque todo gato é um pouco humano e todo humano é um eterno aprendiz do amor e das coisas sensíveis.
Vais descer como um gato; vais viver bastante e sua maior busca lá embaixo será a procura de um rato, aquele bicho nojento e que provoca repulsa.
Terás que viver de uma eterna corrida, porque os ratos correm muito, são rápidos e traiçoeiros, se deixar mordem até gente.

O homem aceitou a ordem de Deus, achou que como um gato a vida seria menos dorida; que não precisaria de dengo e nem amor, bastava ser um gato bonito, ter comida e vida longa.

Dias depois o homem que agora é gato, pede um contato com Deus para tirar algumas dúvidas, então pergunta:
Deus, aqui embaixo tá uma infelicidade sem tamanho. Os ratos são bichos imundos e ariscos mesmo sendo tão miúdos. Eu ainda não entendi porque eu tive de descer em forma de gato, que se alimenta de um bicho tão nojento feito o rato, porque?

Deus olhou para ele e respondeu:
Quando homem, te dei uma mesa farta, comida gostosa e fácil; e jogavas no lixo para os ratos comerem os muitos restos que deixavas. Quando homem te dei abrigo, casa limpa e cheirosa, mas você não parava nela, achava que vida boa era a vida que passava da porta da sua casa para fora. Quando homem te dei um amor e do amor você agiu feito um roedor.

Agora corra, corra atrás do rato!
E não se esqueça que toda vida é quase um pleonasmo, seja ela qual for, é sempre preciso viver para humanizar.

dá o play: