27.8.10

é tempo de saturno rondando o jardim, regando as sementes semeadas e saudando os beija-flores.
não há muito o que colher! escondo dele alguns jarros para que não regue com antecedência o que é para ser colhido somente na outra primavera, com flores de intensas cores e ar palimpséstico.

23.8.10

faço meus planos debaixo dos panos.
alegrias e tormentos tudo embalado em papel de cetim, alguns pacotes jogados ao lixo, outros remexo e acobo por achar perdidos em cantos empoeirados da casa.
a vizinha insiste em saber das coisas de cá, vejo em seus olhos um mar de curiosidades, quase não pisca para que não deixe escapar qualquer novidade.
e essas são tantas.
mas numa visão bem benjaminina, um segredo deixa de ser segredo quando é contado à outrem.
o que pode escapulir feito rebento é que a alegria de cá tem essência de chá verde.
e os planos debaixo dos panos são tricotados em lã macia de tons bem claros.

pois felicidade é um trocinho que só cabe a mim.
ou em mim.

18.8.10

- alento -

“Quando mais nada houver
eu me erguerei cantando,
saudando a vida
com meu corpo de cavalo jovem.

E numa louca corrida
entregarei meu ser ao ser do Tempo
e a minha voz à doce voz do vento.

Despojado do que já não há
solto no vazio do que ainda não veio,
minha boca cantará
cantos de alívio pelo que se foi,
cantos de espera pelo que há de vir.”

aspas de caio fernando abreu.