3.12.08

dos sonos pesados.

Tive um sonho estranho, mais um daqueles sonhos estranhos que deixa a gente pensativa o dia inteiro, que faz a gente sair na rua esquecendo o motivo o qual saiu de casa.
Não era preto e branco como os outros, na verdade haviam cores, não as mais belas e muito menos intensas, mas haviam cores em tudo.
No sonho, Eu era Ela.
E éramos camufladamente iguais.
E sendo Ela, ao acordar, Eu consegui entender e me perder naquilo que é mais humano de todas as coisas, o amor; esse sentimento que se esvai no meio de outros tantos, de egocentrismo, desejos, inveja e todas as pragas soltas por Pandora.
Bendito barco de clichês! Que no melhor do embalo deságua em ondas gigantes.
E por falar em ondas, Eu sempre sonhei com ondas gigantes e tenho pavor delas! Eu, e não Ela.
Ela era uma onda, - não neste sonho, mas numa realidade quase cega - daquelas enormes que sempre rompem o limiar dos sonhos e me levam pro maior dos pesadelos.
Nesses pesadelos Eu sempre me vejo minúscula diantes delas.
Me cobre , me assolam e me levam naquela imensidão temerosa sem controle algum.
Desfaleço nelas.
Meu medo era maior, meu medo sempre foi maior, me corrói, vai corroendo, corroendo, diminuindo cada vez mais e mais e mais, até que.
Acordo!
Sempre angustiada e buscando entender as ondas, o sonho... Nessas horas Eu não queria acreditar tanto em sinais. Busco os sinais e me perco neles, feito formiga perdida no meio de tanto doce sem saber qual pegar para si.
Essas ondas são e sempre serão tudo aquilo que me toma, tudo aquilo que é rasgante em mim, os desejos, os medos, os sonhos, as buscas e o que há de mais obscuro nas entranhas das minhas vontades.
Mas voltando ao sonho em que Eu era Ela.
Estávamos num quarto de cor bege envelhecido. Toda vez que eu acordava, olhava pro lado e a via esticada na cama estreita, olhos cerrados, respiração lenta, silhueta descoberta pro calor do dia que já havia chegado, ela sempre permanecia na cama no esquecimento do tempo, tinha uma vida mansa de gente despreocupada com a tal responsabilidade ou até mesmo peso da idade.
Ela era tudo que eu buscava como coisa realizada; o carinho, a dedicação, o amor, o muito amor quase exacerbado.
Eu sempre quis alguém como ela; eu queria ser e amar como ela; porque na verdade eu nunca amei, eu achava que sabia, mas eu não sei e nunca soube amar!
E me satisfazia tê-la em minha vida como realização de tudo aquilo que refletia como minha sede de ser um pouco melhor. Uma espécie de sustentáculo.
Com o passar do tempo, fui me cansando, me exaurindo de toda aquela vontade que eu não alcançava ou que não me remetia porque de fato eu não conseguia ser tudo aquilo que eu almejava, tudo aquilo que transparecia nela com todas as cores e simplicidade possíveis.
Me vi fracassada diante do meu maior desejo. E eu não queria através dela estar diante de todas as minhas falhas.
Precisei despejá-lo, fingir não tê-lo, arrancá-lo de mim como quem rói uma unha e cospe fora o pedaço tirado.
Ao acordar, ela me olha, com aquele par de olhos... nunca terei olhar tão sereno!
Me sorriu. Aquele sorriso genuíno de quem ama sem precisão.
E foi aí que rompi com minhas vontades e mais uma vez me camuflei numa realidade só minha, sem querer remediar.
Ela partiu.
Mas antes, olhou bem nos meus olhos - que derramavam meu fracasso. sim, eu chorava incontrolavelmente, é difícil admitir! - e me disse:
Tua alma é cega! Caminha nas sombras alheias em busca de uma realidade inexistente ou perdida numa ambição de algo que nunca será.
Mas dentro de ti, bem dentro de ti, há uma alma presa e melhor, que não precisa se espelhar em nada. Um dia, ao se olhar no espelho você há de [se] reconhecer!

E antes que o sonho me remetesse à ondas que me deixam menores, Eu acordei!
Melhor, bem melhor.
De lá pra cá Eu compreendo as ondas ou uma boa parte delas. Onda é como gente e gente é extremado! Vez ou outra a gente se perde em si, quando não, no outro, num altruísmo imperceptível.
E os sonhos...
Ah os sonhos! Os perturbadores sempre clareiam qualquer caminho interno por mais complicado que pareça.
E talvez Eu nunca vá me esquecer das ondas ou pelo menos irei lembrar delas não como uma falha de um sonho que busca ser pensando, mas como um quebra-cabeça montado, pois como dizia a Woolf: Ela falha; mas onde falha e por que falha só pode ser descoberto com atenção e algum tempo.

autor desconhecido. perdido em si ou num outro qualquer. dá o play na seta!

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