1.11.05

um mundinho frágil

ela mora sozinha em um apartamento pequeno que mais parece um quarto de empregada. adora livros de astrologia e literatura de todo tipo, das mais baratas às mais ricas e belas, e deixa tudojuntojogadoaochão. tem os cabelos cacheados, olhos cor de mel, um lábio rosado e uma pele cor de leite. gosta de felinos, cria um gato chamado pluh; tem uma coleção de vinil da billie holiday e dos beatles. beatles pra ouvir pela manhã, e billei pela noite.
guarda um piano de brinquedo, que apesar de ser de criança, ela toca tão bem quanto o oscar peterson.
um quarto e uma só janela, que dá de frente à uma praça com grama, areia e begônias. uns bancos pintados de marrom, onde a maioria das pessoas que sentam ali, são aquelas de cabeça branca, que carregam o jornal debaixo do braço e talvez muita nostalgia na ponta da língua.
toda manhã ela vai à janela dar boas vindas ao sol, dizer bom dia, pedir um bom dia; as cinco e meia da tarde faz o mesmo ritual, dando adeus ao crepúsculo, dando uma boa noite, pedindo uma boa noite.
vai à banca de revista todo santo dia, ler as páginas principais dos jornais que ficam expostos, compra balas e volta pra casa.
gosta de fazer bolhas de sabão. passa o dia todo melecando o seu quarto/casa com bolhas que faz com um só sopro e se espalham por cima dela, da cama, dos livros... fazem cócegas, são bonitas, estouram. ela costuma pensar mil e uma coisa enquanto estica a bochecha e guardando um monte de ar para despejar numa bolha com pretensão de ser grande, duradoura. tem vontade de morar dentro delas. porque parece um mundo transparente, com cores leves enquanto se movimentam no ar. um mundo só dela; uma bolha só dela, uma bolha que não estourasse quando o vento é forte, ou com um simples triscar.
das impossibilidades que ela deseja... na verdade, as vezes ela acha que o que causa tum tum tum dentro dela é como uma bolha de sabão, tem a mesma sensibilidade de tudo aquilo que cresce por dentro, de tudo aquilo que a enche dentro do quarto, dentro das roupas, dentro da pele, dentro dela.
e estouram, também.

... . .. . o o oOO o O O oo o o O OOo o.. . . .. . ...

qualquer semelhança é enooooorme coincidência.

Nenhum comentário: