6.4.07

das coisas que vão feito vento.
O amigo lhe explicava dizendo:
- Faz assim: fecha os olhos e com a ponta dos dedos aperta com bastante força, se possível trinca os dentes e se concentra com muita calma, que eu tenho certeza que você vai conseguir lembrar!

Ele apertava os olhos com tanta força, mas com tanta força que os dedos pareciam querer rasgar as pálpebras, romper a retina, entrar no cérebro e buscar lá no pré-consciente um punhado de lembranças, boas ou ruins, mas alguma lembrança que fosse...
Parou, sacudiu a cabeça agoniado, olhou para o amigo, com os olhos avermelhados de tanto apertar e disse:
- Não dá! Apagou tudo! Sem deixar sequer a sombra daquele sorriso.

Na frase dele havia um certo teor de alívio.

Quando as pessoas pensam que a vida é uma grande brincadeira:
"Escravos de Jó, jogavam caxangá. Tira, bota deixa o Zé Pereira ficar. Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue za".

Semana Santa:
santíssima!

Reservem 7 minutos e 22 segundos do tempo de vocês:
para compreender que “dentro” é uma travessia longa com ladrilhos frágeis e fortes.
O PEQUENO PRÍNCIPE

[da Márcia, a Tiburi]
"A verdade - o fundo restante das coisas - arde, fere, abre feridas"

“ [...] Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia.
Quando volto a pensar nele, nestas noites em que dei para me debruçar à janela procurando luzes móveis pelo céu, gosto de imaginá-lo voando com suas grandes asas douradas, solto no espaço, em direção a todos os lugares que é lugar nenhum. Essa é sua natureza mais sutil, avessa às prisões paradisíacas que idiotamente eu preparava com armadilhas de flores e frutas e fitas, quando ele vinha. Paraísos artificiais que apodreciam aos poucos, paraíso de que devia lhe soar ridículo, patético e mesquinho. Agora deslizo, sem excessivas aflições de ser feliz.
As manhãs são boas para acordar dentro delas, beber café, espiar o tempo. Os objetos são bons de olhar para eles, sem muitos sustos, porque são o que são e também nos olham, com olhos que nada pensam. Desde que o mandei embora, para que eu pudesse aprender a grande desilusão do paraíso, é assim que sinto: quase sem sentir.
[...]
Então quase vomito e choro e sangro quando penso assim. Mas respiro fundo, esfrego as palmas das mãos, gero energia de mim. Para manter-me vivo, saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas ou reflexos esverdeados de escamas pelo apartamento e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, torna-me então outra vez capaz de afirmar, como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo. E, desse jeito, começar uma nova história que, desta vez sim, seria totalmente verdadeira, mesmo sendo completamente mentira. Fico cansado do amor que sinto, e num enorme esforço que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria, tarde da noite, sozinho neste apartamento no meio de uma cidade escassa de dragões, repito e repito este meu confuso aprendizado para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos do sereno velho-eu-mesmo:
- Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho. Que seja doce.
Não, isso também não é verdade”.
[Caio Fernando Abreu]

se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
feliz abril para todos!

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