24.4.07

Às cinco e meia da tarde, quando o céu se toma num azul clarinho meio rosado.
Me disperso no tempo,
Cronológico e sensitivo.
Carrego alguns medos, uns tão enrugados, outros tão verdes.

Longe vejo um banco quase jogado.
Que me chama.
Tiro meus sapatos gastos, caminho até lá com os pés no chão.
Terra fria, grama úmida.
Penso nas canecas quebradas, nos papéis rasgados, nos sonhos
E tudo aquilo que não pude ver.
Penso nas coisas que vi mesmo sem querer, na escuridão que cobriu as cores, a poesia, as coisas.

Ouço sons de apitos.
Vêem de um coração cansado, macerado.
Meu?
Seu?
Venta muito no infinito.
Voam meus pós.
Perco-me nos riscos dos meus passos fracos
Languescendo.

Já não respiro como ontem.
Os dias me são sólidos.
Horas enfraquecidas,
Esquecidas no vazio de mim.
Um gosto chamado resquícios.
Passado velho e remoído.

Penso em maio e nos outros tantos meses,
No inverno cinza.
Trará meus pós de volta?

Preciso montar-me.
Não gosto desses rumores finos,
Desses gestos de delírio,
Dessa ausência de olhar e de voz.

Gosto dos dias raros,
Da feminilidade de todas as manhãs.
Gosto da sutileza dos sorrisos sem peso,
De olhar os trejeitos da vida.
Tão linda!

...

Dá-me a mão.
Não solta!
Deixa eu te ensinar,
Que nessa vida vale tudo!

Primeiro um.
Depois outro.
Isso...
Passos calmos.

Olha...
Há um mar em sua volta.
Pessoas também...
Cada um com seu coração
Cheios de pós.

Olha...
Os coqueiros dançam.

Fecha os olhos.
Respira.
A maresia é tão forte que salga a boca.
Consegue sentir?

Não?
Calma...
É simples!
Respira, respira.

...

Me espera!
Não vai... não vai agora.
Já não tenho mais os meus pós aqui comigo.
Dá-me a mão.
Deixa eu te ensinar

...que essa vida vale um sonho,
e que um sonho vale tudo!


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